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Como Falar com as Árvores

A Amazônia vai aportar no Rio de Janeiro entre maio e junho. Ou pelo menos uma releitura de sons, cores e texturas sobre o território amazônico, feita por artistas que passaram por dias de imersão na floresta para criar suas obras.

De 9 de maio a 28 de junho, a Z42 Arte recebe a exposição “Como falar com as árvores”, projeto decorrente da residência artística realizado pelo LABVERDE no coração da Amazônia com artistas de todo o mundo interessados em explorar a relação entre arte, natureza e ciência. O projeto, que completa cinco anos em 2019, já recebeu mais de cem artistas de 30 países, e chega ao Rio de Janeiro pela primeira vez, depois de passar por Londres, Oslo, Nova York e São Paulo, com inciativas coletivas propostas pelos próprios artistas residentes.

No Rio, serão apresentadas as obras de 20 artistas do Brasil, Estados Unidos, Itália, Chile e Moçambique, que já participaram do projeto: Bia Monteiro, Bianca Lee Vasquez, Claudia Tavares, Fabian Albertini, Guto Nóbrega (com colaboração do artista sonoro Augustine Leudar - UK), Laura Gorski, Lisa Schonberg, Liana Nigri, Lorenzo Moya, Luisa Puterman, Luzia Simons, Nathalia Favaro, Patricia Gouvêa, Renata Cruz, Pedro Vaz, Renata Padovan, Rodrigo Braga, Sergio Helle, Simone Fontana Reis e Turenko Beça.

Criado pela Manifesta Arte e Cultura, em cooperação com o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), o LABVERDE promove uma vivência intensiva na floresta, mediada por uma equipe de especialistas nas áreas de arte, filosofia, biologia, ecologia e ciências naturais.
 

Segundo a curadora do projeto, Lilian Fraiji, a exposição comemora os cinco anos do programa, e traz um panorama cultural sobre a paisagem amazônica, envolvendo artistas nacionais e internacionais. “A exposição apresenta uma efervescência de processos, matérias e técnicas poéticas que ressignificam a natureza em um conjunto plural de linguagens”, explicou. De acordo com Lilian, alguns trabalhos são notadamente engajados e denunciam a extinção da vida na Amazônia, outros dão ênfase à percepção sensorial do artista e seus processos afetivos, enquanto alguns tentam retratar as dinâmicas dos seres em sua complexidade. “Existe ainda a preocupação em dar novo sentido à paisagem, dissolvendo o lugar do sujeito. Há também a vontade de dar visibilidade a fenômenos naturais invisíveis, onde a luz é a grande protagonista nas investigações artísticas”, completou.

Entre as obras que serão exibidas, está a série de instalações “Irreversíveis”, produzida pela artista plástica paulista Renata Padovan. Há mais de vinte anos, Renata tem como foco de seu trabalho lugares em que a interferência humana alterou drasticamente a paisagem, afetando, de forma irreversível, as condições ambientais e sociais da região. Durante a residência, ela fotografou a instalação que criou no cemitério de árvores da usina hidrelétrica de Balbina, um lago de 2.360 km² que inundou parte da floresta causando um impacto ambiental enorme para gerar apenas 250 megawatts, insuficientes sequer para abastecer Manaus. “Eu já conhecia Balbina, mas o trabalho junto com os cientistas no LABVERDE trouxe um novo sentido, ampliou meus conhecimentos. Esta troca é muito interessante. Geralmente a hidrelétrica é considerada uma energia limpa, mas ela traz muitas consequências ruins, como uma alta emissão de dióxido de carbono e metano na atmosfera. O trabalho multidisciplinar propicia esta comunicação, porque o cientista está dentro do laboratório, enquanto o artista é quem vai levar estas questões para o mundo”, explicou Renata sobre o projeto LABVERDE. A noite de abertura terá apresentação do “UAU Show”, baseado na pesquisa da musicista e bióloga Lisa Schonberg, em parceria com o entomólogo Fabrício Baccaro e Erica Valle, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sobre o ambiente sonoro das formigas. Iniciada durante a residência artística LABVERDE, Lisa documentou o ambiente sonoro de inúmeras espécies de formigas da Amazônia para uma investigação científica, em desenvolvimento, sobre como as formigas se comunicam por meio dos sons.

O ambiente sonoro das formigas também serviu como base para a criação de composições do “UAU SHOW”, que será interpretado pelos músicos americanos Lisa Schonberg e Anthony Brisson na abertura da exposição.

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