Silêncio, Palmas!
Cessa o teu apelo,
Sucesso!
Um só plano:
Mesa e cotovelo,
Cala-te festa!
Coração, contém-te!
Cotovelo e testa.
Cotovelo e mente.
...
Marina Tzvietáieva, 1926
Trouxe uma amiga para vir comigo neste texto, e a trouxe com o trecho deste poema que, como este texto não tem título. Uma amiga de palavras, parceira na escrita mas não no espaço-tempo. Marina trazia as palavras no corpo e o corpo nas palavras. E com elas, as palavras, venho desejar uma troca escandalosa, brilhante, cheia de momentos, meio termos, trocadilhos, embaraços, sorrisos de cantos de boca e poucos segredos.
Com os trabalhos da exposição a língua é falada, e atravessada. A quantidade é a qualidade, os cartazes são chamamentos aos corpos e esses corpos se atravessam e nos convidam a quase tocar. Em momentos que o tocar é proibido, esta exposição é como um trem que nos convida a entrar em cada vagão, cada obra, cada força que nos trouxe aqui.
Caroline Valansi atravessa a manutenção da pornografia para a revolução erótica. Manutenção como produção e reprodução de valores mercantis em relação à certos corpos, atos, comportamentos e poderes e Revolução no atravessamento sem pedir licença, na sensação misturada, de visão e tato aguçando paladar e audição. Nos trabalhos, o desejo, sua mão e olhar nas escolhas para nos mostrar. Explícita lícita.
Que silencio maravilhoso, esse olhar úmido, suave, ritmado, gostoso que Caroline traz. Outras regras, discussões e usos. Outros desfrutes. Sem cortes, mas aberturas para o que só pode estar lá por conta dela mesma, a artista, a fazedora de desejos. Uma ação de convite cheios de sim, intimidade com o material, traz para quem observa uma memória de histórias que podemos viver no agora e no futuro.
Vamos atravessar?
Língua Nua
Caroline Valansi, obrigada pelo convite.
Keyna Eleison
Curadora