Vermelho Verde | Edgar Calel e Walter Reis
(17 de abril a 17 de maio de 2018)
Com referências ao poema anti-épico-ameríndio O Guesa
do visionário-poeta-astrônomo Joaquim de Sousândrade.
VERMELHO VERDE é a cor do quetzal, pássaro sagrado na Guatemala, cor mística do manto das matas e do manto tupinambá, o verde e o cinza das chuvas e o vermelho da revoada dos guarás. Expressão de um embrião remoto, de uma cosmogonia ainda operante no Maranhão e na Guatemala, mundos de guerras e poetas, terras em que sonhos e vigílias são amassados, terrores e esperanças processados em uma nova origem. O Novo Éden e o Novo Hades de São Luís, o Jardim dos Vulcões que é a Guatemala.
VERMELHO VERDE é o encontro entre dois artistas latino-americanos: Edgar Calel – pintor, performer e videasta guatemalteco – e Walter Reis – mascareiro, performer, escultor e músico maranhense. Ressonância de trajetórias, pois ambos apostaram em cruzar cosmovisão ancestral e materialidade urbana, multiplicando pontos de atravessamento e conflito
entre ancestralidade pré-colombiana e arte contemporânea.
Além de português e espanhol, há várias línguas nos títulos das obras: kaqchiquel, tupi, latim… Cris de Sol, kit kit kit são evocações instauradoras de outros cantos, palavras carregadas de faculdades de criação e aniquilamento, desarmando o espectador e remetendo a uma experiência anterior, partilhada e onírica.
Calel e Reis engendram objetos que operam por simbiose mais que por representação. Os grafismos extremamente minuciosos de Reis almejam a atualização de um universo gráfico pan-americano. Realizados em vidro, partem de uma pesquisa que envolve arqueoastronomia e arquitetura primitiva, além das simbologias yorubá, fenícia, marajoara e inca. Já Calel mergulha suas vídeos-performances em cosmovisão maya e vida quotidiana.
Cada elemento existe aqui numa relação de trabalho e oferenda, instaurando silêncios de antes da criação. Que como a vida a arte é um excedente, um sacrifício, um “não contido”.
curadoria | Lucas Parente