Edu Monteiro | Costas de Vidro
(30 de julho a 21 de agosto de 2018)
[Ginga]
É simples a imagem com a qual Edu Monteiro apresenta Costas de Vidro. Nela, um homem afrodescendente parcialmente imerso na água segura um tambor. A tensão da pega parece visar menos a proteger o tambor do encontro com a água e mais a trazê-lo junto, conectá-lo a si. De tal modo que corpo humano e tambor tornam-se um a extensão do outro. Fazendo as vezes de tronco e cabeça, o tambor ultrapassa a condição de objeto. Dando braços e pernas ao artefato de madeira, ferro, sisal e couro, o homem amplia atributos e habilidades. Mais do que se justapor ou articular, eles se fundem, passam a ser um único ser. Redução multiplicadora – um que é muito mais.
A imagem é sonora. E não apenas pela dominância axial do tambor. Querendo, pode-se ouvir a marola do mar, uma suave brisa, o roçar da pele na madeira. E mais, pois a foto ressoa além do visível.
É um navio negreiro. Não! É um corpo síntese, índice de milhões de pessoas, tanto das que sucumbiram ao tráfico negreiro quanto das que sobreviveram, vivenciaram e venceram a escravidão.
É uma ilha. É Gorée, Martinica, Cuba, Itaparica, Haiti e Santo Domingo, São Luís, São Tomé e Príncipe, Jamaica e tantas outras na diáspora. É o arquipélago de Cabo Verde. É a América, unificada de Sul a Norte pela negritude com a qual o Atlântico indelevelmente lhe tingiu.
É um terreiro flutuante. Nele, se trabalha. Mas também se luta, dança e ora, praticando ladja, laamb, capoeira, bélé, jongo, samba, candomblé, candombe, batuque, santería, tambor de mina, Xangô, terecô, omolocô, umbanda, mandinga, macumba.
Aparentemente estática, a imagem ginga, reverberando África mundo afora.
curadoria | Roberto Conduru