O homem-animal ingere o pasto. A fala se ausenta, suprimida pelo mascar. O ser-animal move a grama, pedaço a pedaço. Uma geometria verde ocupa o espaço. “Para acalmar a boca”, uma das ações que compõe a exposição Ilha 02 - Ruminações, de Felipe Ribeiro, concentra relações entre verbo e silêncio, entre estática e inércia, que se ramificam por todas as obras.

Felipe Ribeiro se volta para uma fase particular dos ciclos digestórios animais, um estado ralentado, descompromissado com os fins – a ruminação. Tomando para si esse modo manso de ação, o artista desengaja o corpo de suas aceleradas metas sociais. O exercício físico abandona suas funções externas, ou melhor, externo e interno não mais trabalham separados. O que é do órgão (interno) é também do tato, da pisada, da mordida (externos). Há, portanto, um diálogo constante entre um fazer vital e um fazer social.

O estranhamento que normalmente acompanha os deslocamentos de sentido propostos pela arte contemporânea são, nas ações de Felipe, um estranhamento com nós mesmos.

Não há virtuose no fazer de Felipe Ribeiro. Não se trata de desempenho. Tratar a terra, tratar o texto, tratar a imagem, são a mesma tentativa de encontrar, por fim, uma atuação e uma estética que conjugue o belo e o abjeto dentro desse ser-animal que nos habita.