A inscrição da pintura num nível superior marca, não só o começo da primeira grande transformação no campo da arte ocidental, como também, de um de seus postulados fundamentais. Se o fazer manual era considerado mecânico, agora é pensado como um instrumento da fantasia. Quando o pintor e filósofo Leon Alberti publicou o importante tratado Da Pintura, em 1450, queria assim divulgar fundamentos teóricos, tornando mais sólidas as suas bases e transformando a experiência da pintura em sistema. Apresentava uma nova concepção de arte como atividade ética e cognoscitiva.

 

A partir daí foi sendo aberto o caminho para a valorização e autonomia da arte, para a consolidação da ideia de artista. A lógica contemporânea valoriza a criação individual, o fazer e o domínio técnico qualificado e também dá destaque aos autores, seu estilo próprio e suas poéticas.

 

E aqui damos um salto para o ano de 2022, celebrando a pintura e tantas conquistas num momento de tantas apreensões! A exposição Da Pintura reúne 20 artistas que trazem questões e exploram criações próprias. O termo autopoiesis (do grego) criado na década de 1970, e que designa a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios, de se auto definir e se renovar, traduz a produção contemporânea. Como um culto de resistência, os artistas procuram na pintura outro modo de mediação, de tomar o mundo nas mãos e gritar que a liberdade é um direito. Se a crise está instalada que possamos todos responder com uma explosão de cores e formas, com a capacidade que temos de produzir e criar. Nada nesse momento é supérfluo e sempre podemos ouvir as múltiplas vozes que ecoam. São 20 artistas, em diferentes estágios de desenvolvimento, cada qual com a sua poética, tentando entender o que está muito além das palavras.

 

Que essa exposição seja uma celebração! Uma possibilidade de encontro e junção de forças que nos fará ultrapassar medos e tabus.

​

Isabel Portella

Curadora